domingo, 2 de agosto de 2020

Otoya Sato


Otoya Sato (31/08/1937- 16/01/2012)
O farmacêutico Otoya Sato, como era conhecido na região do Jardim Presidente Dutra nascido em Serra Azul interior do estado de São Paulo veio para Guarulhos 1963, depois de trabalhar pouco tempo em um grande laboratório da cidade, montou junto com um amigo uma farmácia, mas logo saiu da sociedade e resolveu empreender um negócio só seu, e abriu a Drogaria Otoya Sato, a primeira da região do Jardim Presidente Dutra, cujo Otoya Sato também era um dos moradores mais antigos do local.
Vale lembrar que nos anos 60 a cidade de Guarulhos passou por uma grande transformação social e industrial o que atraiu muitos migrantes pela oferta de empregos e moradia barata, onde os loteadores propagandeavam nos jornais os seus terrenos, o grande problema é que o terreno era vendido, mas as necessidades básicas eram precárias, como transporte, saúde, educação e saneamento básico, e quanto mais longe do Centro da Guarulhos maior eram esses problemas.
 É nesse ambiente em que sua drogaria seria importante para a comunidade do Jardim Presidente Dutra, pois além de vender medicamentos para a comunidade Otoya Sato atendia as pessoas aplicando vacinas, pronto atendimentos médicos, até partos fazia em seu estabelecimento, muito pela precariedade das pessoas de se locomoverem  até um hospital mais próximo, sendo que Otoya Sato possuía apenas uma bicicleta para andar, dado a carência da população muitas vezes não cobrava pelos seus serviços, e de certa forma supria a falta de investimento da prefeitura na saúde.
Quando alguém precisava de algum atendimento médico, algum morador dizia, vai lá no “Toya”, que ele te ajuda, forma popular como era conhecido Otoya Sato, esse engajamento junto com a comunidade fez com que ele concorresse ao cargo de vereador, onde foi eleito pelo partido do ARENA, foi eleito por dois mandatos mudando de partido para o PMDB e depois para o PDS.
Como vereador tomou uma atitude impensável para o seu partido ARENA que representava o governo militar, se colocou contra a implantação do Aeroporto Internacional de São Paulo, o que hoje para muitos pode parecer hipocrisia, já que o aeroporto é responsável por movimentar grande parte da economia do município de Guarulhos. Porém no final dos anos 70 quando  as negociações entre o Estado e a Prefeitura de Guarulhos avançavam, a população era reticente com a implantação do aeroporto, pois além da poluição sonora a mudança no meio ambiente causaria na verdade mais pobreza as regiões afetadas, e com isso a maioria da população do município era contra a implantação do aeroporto.
Para a implantação do aeroporto era preciso a desapropriação de áreas residenciais, como parte do Jardim Presidente Dutra, Haroldo Veloso, Jardim Portugal e o Parque São Luiz, o que causou a revolta da população dessa região, que organizaram uma comissão para lutar contra a implantação do aeroporto, o vereador Kan Kise foi escolhido como representante da comissão, o vereador Otoya Sato que tinha grande relação com a sua comunidade e também  defensor do meio ambiente se juntou na luta contra a implantação do aeroporto.

O vereador Otoya Sato se juntou a população da região que seria desapropriada ao qual fizeram várias manifestações e passeatas, tanta nas imediações quanto no Centro de Guarulhos, mas o movimento teve um revés, o vereador Kan Kise que liderava as ações contra o aeroporto passou de contra  a favor da implantação do aeroporto, um duro golpe na população  que aos poucos iam diminuindo em número sua participação nas passeatas.

Apesar do desanimo os moradores ainda não desistiram e escolheram o vereador Otoya Sato como novo representante da comissão contra implantação do aeroporto, e as passeatas persistiram, em uma reportagem da Folha de São Paulo Otoya  Sato questionou porque o aeroporto não  podia ser construído na região do bairro Morumbi, e sim na periferia que já sofre com a pobreza e a falta de estrutura, em outra reportagem do mesmo jornal ele disse que o povo ainda não tinha tomado consciência dos graves prejuízos decorrente do aeroporto, como poluição do ar, das aguas e do ar, e também que apesar do fator progressista do aeroporto, os habitantes da cidade da cidade de São Paulo seriam afetados pelos inevitáveis congestionamentos da Via Dutra entre os dois municípios.
Sendo vidente ou não esses problemas analisados por Otoya Sato podem ser notados hoje em dia para quem mora nessa região, com o início dos anos 80 o governo praticamente decretou a implantação do aeroporto, restando aos moradores negociarem a indenização que receberiam pelas suas propriedades, papel esse intermediado com ajuda do vereador Otoya Sato, já que apenas uma pequena porcentagem dos moradores da região possuíam escrituras de suas terras, e a grande maioria residiam sobre terras do governo federal, que não considerava as leis estaduais como terras de devolutas, e sim como terras do antigo aldeamento indígena, com isso não existia chance de afloramentos por parte dos moradores da região, diferente de algumas famílias da cidade de Guarulhos que possuem grandes possessões de terras de afloramentos conseguidos no passado até os dias de hoje.

Com a implantação do aeroporto, muitos moradores saíram para morarem nas várias comunidades espalhadas pela cidade, e mesmo aqueles que tinham escrituras tinham que se afastar do local onde viviam, pois a especulação imobiliária havia aumentada tanto o valor dos imóveis, quanto o valor dos materiais de construção da região, em uma reportagem sobre o aeroporto concedido a Folha de São Paulo o vereador Otoya Sato desabafou, “parece que tudo é feito só para enganar o povo, com marchas e contramarchas nas quais a sorte da população nunca é levado em consideração”.
Otoya Sato depois de completar o seu segundo mandato como vereador abandonou a vida pública, mas ainda podia ser visto na sua antiga drogaria, e passou a dedicar ao meio ambiente, e em 16 de janeiro de 2012 viria a falecer vítima de um câncer, doença que enfrentava nos últimos anos.
Otoya Sato como defensor do meio ambiente idealizou a Caminhada Ecológica, que foi decretada depois de sua morte, denominada “Caminhada Ecológica Otoya Sato” (LEI Nº 7063, DE 11 DE JULHO DE 2012), também recebeu como homenagem a criação da escola EPG Otoya Sato no ano de 2016, e uma praça chamada Otoya Sato Vereador (LEI Nº 7043, DE 21 DE MAIO DE 2012), tanto a Caminhada Ecológica, como escola e a praça, estão localizados na região do Jardim Presidente Dutra, lugar onde Otoya Sato tinha uma grande relação de respeito e solidariedade com os moradores que ali vivem.
No final de 1982 em uma entrevista ao jornal “Folha Metropolitana” ele disse o que o novo prefeito e vereadores eleitos no pleito daquele ano iriam encontrar como desafio na nova gestão que se iniciaria no ano seguinte.” Apesar do grande esforço, que não faltou em momento algum pelos membros do Executivo municipal e pelos vereadores, os bairros Jardim Presidente Dutra, Bonsucesso, Cumbica, Dos Pimentas, Lavras, Jurema e outros estão carentes das necessidades básicas”.
Apesar da melhora dos problemas desses bairros citado por Otoya Sato mal sabia ele que mesmo em 2020 esses problemas ainda persistiriam, principalmente nas comunidades localizadas nos extremos dos bairros da cidade, onde infelizmente o poder público muitas vezes insiste em ignorar, para levar as necessidades mais básicas que o povo necessita, longe do tempo em que Otoya Sato convivia junto com sua comunidade, ao qual dividiam e lutavam juntos por melhores condições básicas para viver.
Hoje a antiga Drogaria Otoya Sato localizada no Parque São Luiz na avenida Papa João Paulo II não existe mais, existe sim uma drogaria, mas que leva outro nome, ao lado da drogaria inicia a rua Guaraci que depois de duas quadras é cortada pela cerca do aeroporto, uma rua que não leva a lugar nenhum, mas ao olhar sobre a cerca ainda é visível encontrar o rastro de um caminho que fazia parte da Cidade Parque São Luiz, que foi quase totalmente extinta com a implantação do aeroporto, hoje o aeroporto é importante economicamente para a cidade de Guarulhos, mas ali um dia existiu uma grande comunidade que se consultava com o saudoso farmacêutico Otoya Sato, e também iam nas missas da igreja São Luiz de Gonzaga, hoje tudo isso está na memória daqueles viveram e lutaram por uma vida melhor, isso faz parte da história da cidade de Guarulhos, que jamais deve ser esquecida.

Texto: Carlos Alberto Cardoso Pereira
Fonte: Jornal Folha de São Paulo, Jornal Folha Metropolitana, Arquivo Nacional e Portal Leis Municipais do Brasil.

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